A Complacência – o ativo mais tóxico na “linha da frente”
Do meu contacto de 25 anos com a economia portuguesa e de alguns com a hospitality à portuguesa, retiro duas aprendizagens relacionadas com a complacência:
1 – A complacência com o sucesso aparente.
Uma realidade menos do que mediana pode ser mediaticamente travestida de sucesso. E é possível gerar uma complacência com esse sucesso aparente, fugaz e artificial. É incrível ver como pessoas inteligentes se auto-convencem de que este “mecanismo” tem substância. De que é caminho para mais do que sobreviver até ao dia seguinte. Não surpreendente, é ver como isto acaba normalmente: com mais dívida ou mais envolvimento acionista. É a cegueira gerada pela complacência. As evidências existem, mas nós não as queremos valorizar.
2 – A complacência com o sucesso real.
Este é um caso ainda mais difícil. Atingimos objetivos e alcançámos um estatuto. Pensamos que vai ser para sempre, porque o sucesso só dependeu de quão excelentes somos. Ninguém mais contribuiu. Não reconhecemos papel aos outros, a factores conjunturais de mercado ou apenas à sorte. Concluímos que nada temos que mudar ou sabemos que temos, mas não estamos para isso. Esquecemos que o mais difícil não é atingir uma posição competitiva confortável, mas sim mantê-la.
A complacência é forte candidato ao título de activo mais tóxico nas empresas. Talvez, neste momento que vivemos, se torne uma questão de sobrevivência. Em especial, quando vivemos em “economia de guerra” e quando o sector está na “linha da frente”.
Sentimos que temos “lastro”‘dentro de casa? Pessoas, projetos, Unidades “penduradas no cash-flow”? É tempo de restruturar.
Sentimos que vivemos uma “paz falsa”, por não enfrentarmos os problemas reais? Não adiemos. É tempo de requalificar.
O problema hoje é mais do que gerir taxas de ocupação, revpar’s, o deficitário F&B (exemplo) ou os custos operacionais. Nestes tempos que vivemos, trabalhar na hotelaria e turismo é estar na “linha da frente”. Sobreviverá quem se reinventar. Os outros ficarão para trás, a navegar em círculo, no mar da sua própria complacência.
Essa complacência não aparece nos Balanços que a contabilidade produz, mas é seguramente o seu ativo mais tóxico.
Luis Barbosa
Financial Architect
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