A Função Financeira – As Lacunas mais Observadas
A prática observada em Portugal na gestão financeira de empresas continua a ser marcada, a meu ver, por princípios discutíveis e que justificam em larga medida porque é que não vemos mais vezes o muito talento profissional que existe em Portugal plasmado em qualidade e sustentabilidade das empresas.
Resumo nestes 10 princípios, aqueles que me parecem ser os nossos problemas mais gritantes:
- Desconfiança perante o capital de risco e outros instrumentos de capital próprio e tendência para um excesso de alavancagem bancária. A abertura de capital implica cedência de algum controlo e rentabilidade dos acionistas, mas a dependência excessiva de bancos também tem implicações próximas, agravando o risco da empresa. Encarar o capital de risco como hipótese séria é um cenário interessante, sobretudo quando temos um projeto que não conseguimos levar a cabo sem “músculo” financeiro.
- Forma de encarar os apoios e incentivos comunitários, partindo do incentivo para a ideia, em vez de partir da ideia para o incentivo. Os incentivos existem para apoiar ideias que fazem sentido, com ou sem incentivos.
- Combinação endémica de micro-gestão com ausência de reporting sobre os dados essenciais. Em larga medida, porque não se discute o que são os dados essenciais.
- Práticas erradas de cobrança e controlo de crédito, como se cobrar não fosse, para uma empresa, o equivalente à respiração de um ser humano.
- Negociação com fornecedores quase sempre assente no preço, esquecendo outros critérios tão importantes, quando não, mais importantes.
- Pagamento a fornecedores assente em quem reclama mais alto.
- Aversão à tecnologia e ao muito que ela pode fazer por uma função financeira: automatizar, melhorar a tempestividade dos processos, reforçar a fiabilidade dos outcomes.
- Excesso de intuição e attachment emocional, com ausência de dados objetivos e o ignorar de evidências. O que leva a apostar em cavalos errados e em continuar a atirar dinheiro para cima deles, quando já é evidente que a corrida vai ser perdida.
- Crónico défice de formação, em coisas básicas como o Excel, cálculo financeiro ou outros temas.
- Em contraponto com tudo o acima descrito, gerir uma empresa como se a função financeira fosse a sua razão de ser e não os clientes que ela serve, os acionistas que remunera e os colaboradores a quem dá trabalho.
Poderia haver outros, mas talvez estes sejam o Top 10 de uma realidade observada ao longo de 25 anos.
Luís Barbosa
Financial Architect
ABC Sustainable Luxury Hospitality
Proud Ambassador Global Wellness Institute
Happiest Places to Work – Awards
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