Bill Gates e os Bancos
Bill Gates disse há uns dias que a atividade bancária é uma das que vão desaparecer de cena nos próximos 10 a 15 anos.
Pessoalmente, embirro por definição com o tipo de afirmação em questão, porque raramente os detentores de bolas de cristal e outros profissionais da adivinhação comparecem para explicar quando se enganam.
Compreendo no caso, que alguma da banca pertence ao século passado: centralizadora, cega, volátil. Em alguns casos, incompreensivelmente exposta. Noutros, totalmente avessa ao risco, coisa que realmente se pensarmos bem é o core do negócio de um banco. Se não há risco, porque há spread e para que serve o banco ?
Da mesma forma que o mundo tem demasiados empresários pendurados em bancos, também parece ter alguns bancos que só emprestam a quem não precisa. Procuro não me rodear nem de uns nem de outros.
Pela minha parte, a ideia de banco parceiro é bem presente e perdurará: a de um banco que exige mas também concede. Que contribui para que existam boas práticas nas empresas, sem querer ensinar o empresário a gerir o seu negócio. Que é razoável nos spreads. E que compreende a relevância do tempo. O tempo que se dá para cumprir sem estrangular. O tempo que se auto-impõe para dizer que sim ou que não, em vez de deixar o mundo em suspenso, à espera de uma luz divina.
É possível que o Sr. Gates tenha também razão em relação a estes bancos (parceiros), na sua projeção apocalíptica. Eu espero sinceramente que ele esteja errado. E espero que esteja errado, por não ter dúvidas sobre a relevância estratégica de continuarmos a ter uma certa banca. Mais. De continuarmos a ter banca portuguesa. Não é uma questão de fé, mas uma evidência de mercado.
A convicção acima assenta fundamentalmente em três realidades:
- O peso significativo dos investimentos em infraestruturas numa unidade hoteleira, que implica temos de recuperação de investimentos mais longos.
- O caráter sazonal do Turismo, que implica que há sazonalidade relevante na capacidade de auto-financiamento.
- A lentidão com que vão surgindo mecanismos alternativos de financiamento e que tornam o papel da banca insubstituível, nos próximos anos.
O nosso turismo há-de conseguir continuar a cativar investidores, bastantes deles estrangeiros. Mas para fazermos coisas diferentes – inovadoras, diferenciadoras e com elevado valor acrescentado nacional – coisas que existem em todo o mundo civilizado e a que Portugal parece resistir, nunca poderemos prescindir de parceiros financeiros credíveis. Em especial, daqueles que dizem “presente” quando são necessários.
Luís Barbosa
Financial Architect
ABC Sustainable Luxury Hospitality
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