Gestão Estratégica: Transformar Adversidade em Vantagem

O choque do Covid-19 atormentou Portugal e o mundo, numa altura em que se atravessava um crescimento económico exponencial, adivinhando-se para 2020 números recordes em todas as vertentes. Não era de menos. A World Travel and Tourism Council (WTTC) apontava o setor como o principal criador de valor a nível global, representando 10.4% do total do PIB mundial. De repente, um enorme – e necessário – travão de proporções épicas atirou todos os números “ao tapete”. 

O COMUM

Para um setor que está intimamente ligado aos ciclos económicos, o congelar de toda a atividade tem consequências maiores do que aquelas que outras indústrias estão e podem vir a sentir. Milhares de empresas precisaram de fechar portas, não por quererem, mas por imposição. Milhões de trabalhadores entraram em lay-off ou no desemprego. Aeroportos encerrados, fronteiras com circulação limitada. À quantidade abismal de reservas canceladas ou de dias sem servir clientes, juntaram-se os eventos cancelados ou os investimentos adiados. Um gelo total. E a pergunta que todos fizeram foi: e agora

Perante um cenário de adversidade, mesmo que totalmente novo, a maioria das ações ficou-se pelo de sempre: cortar custos, fechar, enviar o pessoal para casa, esperar que passe a tormenta. Vamos ler isto de outra forma, da perspectiva da estratégia e utilizando a famosa análise SWOT. As empresas olharam para as suas forças e decidiram cortaram na principal: o capital humano. Em seguida, olharam para as fraquezas e deixaram estar; mudar agora? De ameaças, só importa o vírus. E quanto a oportunidades? Contam-se pelos dedos das mãos as que pensaram no assunto.

Esta crise trouxe ao de cima a fragilidade do tecido turístico do país ainda assente em estratégias antiquadas, sem objetividade, criatividade e inovação. Pior, trouxe ao de cima as práticas de gestão do séc. XX que ainda perduram na maioria das empresas. E quanto a cultura…bem, se a ideia principal foi cortar no capital humano, então estamos conversados.

Voltando à estratégia, porque é que continuamos a ver os erros que se cometeram em crises anteriores? Apesar de se falar em inovação e avanço tecnológico, arriscamo-nos a dizer que na verdade estamos apenas a recuperar tempo perdido. Formas de trabalhar, como o teletrabalho, que hoje exaltamos como inovadoras são já utilizadas noutros países à anos. Arriscamo-nos a escrever que aplicar uma ferramenta como a SWOT é também uma tentativa antiquada de criar estratégia. E não é só antiquada como nos limita. Como? Não querendo ir pela idade da ferramenta – velhos são os trapos – vamos pela obrigação. Esta ferramenta obriga-nos a pensar não só em forças e oportunidades, mas também em fraquezas e ameaças! Ao obrigarmos o nosso pensamento a focar-se naquelas duas palavras, criamos desde logo uma inclinação para a derrota. Esta inclinação, junto com a inação, foi e é o nosso pior inimigo em tempo de crise. 

MUDAR PARADIGMAS

No nosso entender, em vez de olharmos para o obstáculo em si, deveríamos usá-lo como o combustível para uma mudança, principalmente do pensamento estratégico adaptado às características do tempo em que vivemos. Mais além, deve ir ao encontro das características da geração que compõe a maioria do nosso capital humano, pois são estas pessoas que fazem o tempo em que vivemos. E aqueles já nos têm dito há muito que o pior que lhes podemos apresentar é a inclinação para a derrota. 

ESTÁ NA HORA

Está assim na hora de mudarmos o mind-set e retirar do pensamento estratégico as palavras “fraqueza” e “ameaças”. O que dantes colocávamos dentro desses “quadrados” deve agora ser visto como “oportunidades”. Podem ser de diversas formas: aproveitar esta paragem e redefinir o nosso modelo de negócio; olhar para os nossos talentos e dar-lhes novas ferramentas que lhes permitam ter mais empowerment no futuro; melhorar os nossos processos de serviço, adaptando a uma realidade de maior interação digital e em que os clientes quererão ter mais controlo sobre a experiência. E sim, olhar para as nossas forças, para aquilo que sempre fizemos de melhor e acrescentarmos ainda mais valor. 

Como todas as crises esta é passageira, e quem se tiver preparado melhor e conseguido fazer um Business Turnaround profundo, estará com certeza na pole-position da recuperação.

Luís Madera

CEO & New Business Manager | Traços chave: Inspiração, Liderança, Pró-atividade

Deixe um Comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.