Gratidão: há motivos para agradecer?
Esta pandemia, a demora da vacina, o desemprego a crescer, a crise económica, a disseminação de fake news, além dos problemas pessoais de cada um, podem impedir reflexões sobre as coisas boas que acontecem na vida, das situações mais significativas e até as mais simples. Este turbilhão de emoções gera ansiedade, depressão, fobias e diversos outros problemas psicológicos.
O Dia da Gratidão é comemorado no Brasil, a 6 de janeiro, coincidentemente, no Dia de Reis, no qual os cristãos relembram a chegada dos reis magos após o nascimento de Jesus. Quando falamos sobre “lembrar das coisas boas da vida”, existe uma linha tênue com a chamada “positividade tóxica”, ou seja, pessoas que, no lugar de enfrentarem os problemas, ignoram os fatos e imaginam que esteja tudo bem. Mas não é isso que se trata.
O que impede, líderes e colaboradores de expressar gratidão?
Gratidão não rima com ambiente de trabalho?
Investigadores definem apreço como o acto de reconhecer a bondade da vida – por outras palavras, ver o que há de positivo em acontecimentos, experiências ou outras pessoas (como os nossos colegas).
Gratidão vai um passo além: reconhece como as coisas positivas nas nossas vidas – como um sucesso no trabalho – muitas vezes se devem a forças externas, principalmente aos esforços de outras pessoas. Mas esse tipo de pensamento pode parecer contra-cultural no reino das hierarquias e promoções, onde todos tentam progredir e podem ser relutantes em reconhecer a sua confiança – ou expressar emoções para com – os seus colegas de trabalho.
Tendemos a olhar para as organizações como lugares transacionais onde é suposto sermos “profissionais” e, assim, podemos pensar que não é profissional trazer aspectos como o perdão, a gratidão ou a compaixão, para o local de trabalho. No entanto, as evidências científicas sugerem que a gratidão e o apreço contribuem para o tipo de ambiente de trabalho onde os colaboradores realmente querem trabalhar e não se sentem como engrenagens numa máquina. Diversos estudos já demonstraram que a prática da gratidão nos contextos de trabalho está associada a mais emoções positivas, menos stress ocupacional e menos queixas de saúde, um maior sentido de que podemos atingir os nossos objectivos, menor absentismo e maior satisfação com o trabalho e com os colegas.
E como integrar na cultura da organização? No dia-dia-dia há espaço para o reconhecimento?
Embora expressar agradecimento aos colegas possa parecer estranho ou mesmo desalinhado com algumas culturas organizacionais, muitas empresas têm desenvolvido formas inovadoras de superar essas barreiras. Com base na investigação científica existente sobre gratidão no trabalho, e até por vezes à frente desta, os seus esforços identificaram estratégias concretas e importantes para colocar essas evidências em prática.
As suas experiências sugerem que construir culturas de gratidão e apreço pode transformar as nossas vidas de trabalho, levando a conexões mais profundas uns com os outros e com o trabalho que estamos a realizar.
Independentemente das estratégias a implementar (promover a manutenção de diários de acontecimentos positivos, de envio de notas/mensagens de agradecimento a colegas, prática de mindfulness…) será sempre importante recordar que a gratidão é acerca das pessoas como um todo, não assume o formato “one-size-fits-all”, deve ser acolhida e ter a adesão dos líderes para ser integrada na cultura da organização.
“Nos dias de hoje, gerir equipas, gerir pessoas, que se encontram a trabalhar quer presencialmente quer a partir de casa ou em lay off, acarreta desafios adicionais que colocam à prova a cultura das organizações e a qualidade dos processos de liderança. “
Nesse contexto, é crítico que os líderes reforcem intencionalmente as suas acções de comunicação e de proximidade (física e virtual), seja através de actos simbólicos e pequenas acções significativas para a equipa/organização e/ou através de momentos de trabalho colaborativo e de feedback de qualidade, para que assim facilitem a coesão embebendo o trabalho de significado e valor, garantindo que cada colaborador sabe como pode contribuir e reconhecendo esse contributo.
Alexandra Outeiro
HR Specialist
AB&C Hospitality Management and Operations
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