Turistas a mais e turistas a menos!
Tenho seguido com particular interesse a discussão pública sobre a queda brutal do número de turistas em Lisboa.
Em Portugal, é quase sempre muito difícil trocar argumentos serenos sobre temas que fraturam. Se somos a favor, é porque nos dá jeito. Se somos contra, é porque somos retrógrados. É por isso que os problemas em Portugal são cíclicos. Empurram-se com a barriga. Disfarçam-se sem que se resolvam. E de tempos a tempos voltam a assolar-nos.
De um lado, temos gente que acredita que os bairros populares ficaram descaraterizados, que não podemos ter uma dependência excessiva do setor e que a cidade não estava capacitada para o crescimento verificado. Podemos chamar a isto a lógica de crescimento das Ilhas Seychelles. Há um número de turistas que é possível receber sem destruir o arquipélago. Os outros têm que esperar.
Do outro lado, explica-se que o turismo representa riqueza, postos de trabalho e forma de vida para pessoas de carne e osso. Que todo o Turismo é bom. Que o alojamento local contribuiu para dar vida e renovar imóveis devolutos em bairros degradados, que os 50 por cento de peso do estado no PIB não chegam para manter. Eu também acredito que quase tudo isto é verdade.
Há legitimidade nos dois lados da equação.
Se queremos que o Turismo, do qual somos tão dependentes, e outros sectores adjacentes, sejam mais resilientes, temos que pensar de forma mais holística. Não é possível continuar a fazer as coisas “à portuguesa”. Não podemos crescer a 2 dígitos sem tratar de outras coisas: capacidade aeroportuária, transportes públicos mais robustos e extensão para Sul daquilo a que chamamos Lisboa, com planeamento de território minimamente digno desse nome. E já agora: uma companhia aérea gerida com um mínimo de rigor, de forma profissional. Que não nos peça a cada 10 anos um empréstimo que leva 25 anos a pagar.
Depois temos que perceber como gastamos o dinheiro do Turismo. Porque sim, eu gosto de partilhar o meu País, como gosto de partilhar os países dos outros. Mas aprecio que a receita não continue a ser consumida em bancos nacionalizados, elefantes brancos de regime e negócios menos claros.
Bem podemos chamar frugais aos que têm que meter dinheiro, como se o resto do mundo nos devesse dinheiro à nascença. As nossas elites têm que começar a ter um pouco do bom-senso que tanto pede ao português comum ou às empresas portuguesas comuns.
Mas começo a pensar que terão que ser os nossos filhos a resolver isso. Com a nossa geração (que herdou a democracia dos Pais mas não deixará pensões aos Filhos), tem sido difícil.
Luis Barbosa
Financial Architect
AB&C Hospitality
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