O Ritual Custo-Zero vs. O SPA de Luxo: Uma Reflexão Sobre o Verdadeiro Bem-Estar
Por que razão insisto em dizer que ter um SPA num hotel não é o mesmo que ter um hotel que inclui um serviço de bem-estar e saúde hoje expectável, especialmente em hotéis de alto posicionamento?
Um ritual de bem-estar a custo reduzido na Ilha da Madeira
Numa recente curta estadia na maravilhosa Ilha da Madeira, vivenciei uma experiência única de bem-estar que teve um profundo impacto na minha saúde física, emocional e espiritual.
Desci à Praia do Garajau e, como habitualmente, fui recebida no restaurante de praia de forma ímpar, para desfrutar de uma boa refeição numa mesa previamente reservada. Uma experiência que me fez sentir verdadeiramente especial.
Parti de seguida em direção às pedras quentes, onde fiz uma breve meditação e mergulhei naquele oceano único, repleto de propriedades maravilhosas. Regressei e deitei-me novamente sobre as pedras quentes. Coloquei algumas em pontos estratégicos do corpo, tendo permanecido alguns minutos nesse ritual.

Quais os benefícios deste ritual a custo reduzido?
Benefícios de mergulhar no oceano:
- Estimulação circulatória: a água do mar, geralmente fresca, estimula a circulação sanguínea e linfática.
- Exercício físico suave: nadar ou simplesmente movimentar-se no mar trabalha os músculos, as articulações e a respiração.
- Efeitos respiratórios: o ar marítimo, rico em iodo e sais minerais, pode facilitar a respiração e limpar as vias aéreas.
- Relaxamento mental: o contacto com a água e o som do mar reduzem o stress e a ansiedade.
- Exposição controlada ao sol: ajuda na síntese de vitamina D (sempre com atenção à proteção solar).
Benefícios de se deitar nas pedras quentes
- Termoterapia natural: o calor das pedras relaxa músculos e articulações, aliviando tensões e dores leves.
- Estimulação da circulação: o contraste frio (do mergulho) seguido de calor (das pedras) fortalece os vasos sanguíneos e regula o metabolismo.
- Sensação de enraizamento: o contacto direto com a superfície terrestre (prática semelhante ao grounding) pode promover relaxamento profundo e uma sensação de equilíbrio.
- Alívio do stress: o calor acalma o sistema nervoso, favorecendo um estado meditativo.
O efeito combinado (contraste frio–quente)
Semelhante às técnicas de banho nórdico (sauna + mergulho em água fria), o ciclo de frio seguido de calor fortalece a resistência física, melhora a disposição, aumenta a liberação de endorfinas e reforça o sistema imunitário.

Um ritual de bem-estar num SPA de luxo
Depois desta experiência, fui experimentar um SPA de um reconhecido hotel de luxo da ilha, que despertava muita curiosidade em mim. Infelizmente, as minhas expectativas saíram defraudadas.
O SPA está efetivamente envolvido por um maravilhoso storytelling. Ao ouvirmos a história inspirada numa floresta e nas levadas, sentimos realmente o cuidado tido na criação de circuitos e equipamentos, nos quais o contraste entre o quente e o frio (como acima descrevi) oferece o principal benefício.
Avancei para os duches com cromoterapia, onde fui surpreendida pela presença de apenas 4 cores. Ora, para uma harmonização energética correta (chakras), seria muito mais eficiente ter o circuito completo. Caso contrário, para quê ter?
A aromaterapia anunciada também nem se sente.
O telemóvel é permitido, não existindo sequer música ambiente.
Têm uma sala maravilhosa, essa sim com música e parede de Sal dos Himalaias. No entanto, embora uma parede de sal rosa potencie a sensação de bem-estar, melhore a estética do espaço e crie um diferencial terapêutico, os efeitos “físicos” do sal ainda não foram totalmente comprovados pela ciência.
Tenho a certeza de que o utilizador comum de um spa (sem grandes noções sobre o que lhe faz bem ou mal) não sente propriamente efeitos. É apenas algo que, visualmente, é atrativo e é divertido experimentar. Do ponto de vista terapêutico, é quase nulo.
Fui depois experienciar algo que considero um dos rituais mais importantes, a massagem de relaxamento, que, quando bem feita, é realmente terapêutica.
A minha expectativa saiu defraudada. Esperava muito mais de um SPA de referência. Os produtos internacionais eram efetivamente de topo.
O ritual de boas-vindas consistiu num oshibori com aroma a laranja, entregue pela recepcionista quando estávamos de pé.
Sentei-me para preencher o formulário, tendo, nesse momento, sido servida uma água aromatizada.
De seguida, fui encaminhada para a sala, onde os meus pés foram colocados numa taça com água e, sem qualquer gesto ou ritual, foram limpos logo de seguida. Pergunto: qual o objetivo de perder tempo da massagem com este ritual sem significado?
Na massagem de relaxamento com uma duração de 60 minutos, a terapeuta, apesar de profissional, não tocou em partes do corpo fundamentais para o relaxamento.
Terminada a massagem, seguiu-se o ritual de relaxamento numa sala muito bem conseguida, à qual dou os meus parabéns, com um ritual de chá, este sim, digno da unidade hoteleira em causa. Um chá maravilhoso, vindo dos Açores, acompanhado por bolachas caseiras feitas no hotel.

Repensar o futuro: a urgência de inovar o bem-estar e a saúde na hotelaria de luxo
Esta minha experiência agridoce veio reforçar a ideia da atual falta de equilíbrio entre Qualidade/Preço e Investimento/Eficácia — variáveis que, na minha opinião, continuam a ser deficitárias nos SPA.
Há que, efetivamente, começar a repensar o BEM-ESTAR e SAÚDE numa unidade hoteleira de forma muito mais inovadora, personalizada e estruturada.


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