Volume e Sustentabilidade
O contexto de recuperação que hoje temos e que conseguimos perspetivar, com o regresso do Turismo e com o levantamento gradual das restrições, leva-me a abordar novamente um tema que me é caro (do ponto de vista sentimental), mas também que nos tem sido caro (do ponto de vista da sustentabilidade financeira).
Trata-se do binómio volume x sustentabilidade.
Tenho muitas vezes conversas com amigos que pensam que todo o Turismo é bom. Que devemos deixar o Turismo à solta. Deixar crescer alojamentos locais por todo o lado. Abrir mais 50 hotéis de 3 estrelas na mesma rua. Atrair profissionais para o Turismo até secar outros setores, coisa muito frequente nos anos pré-pandemia. Essas pessoas, nos ciclos baixos, são as primeiras a dizer “estás a ver? Os turistas desapareceram. E agora?”. Ora, eu tenho um problema com esta tese, que considero falível: a ideia de que temos que aproveitar ao máximo os ciclos económicos e meter todas as “fichas” no mesmo sítio, para depois nos queixarmos da vida quando o ciclo está na fase “bear”. Não querer ver isto, é, sinceramente, fazer de avestruz. Daquelas avestruzes que fazem a rede elétrica ir abaixo…
Não considero que nenhum país que viva de uma dependência pouco sustentável, seja saudável por muito tempo. E gostava sinceramente que o nosso país pudesse por uma vez pensar estrategicamente, se calhar com algumas caras novas e com menos agendas próprias. Talvez até, mais do que pensar estrategicamente seja necessário AGIR estrategicamente:
· Com menos recurso a dívida. Os bancos servem para ajudar temporariamente, não para substituir o papel dos promotores de um projeto.
· Com diversificação. Portugal não é Lisboa, Porto e Algarve. Diversifique-se mais e depressa por favor.
· Com mais aposta no Turismo que revaloriza e preserva o nosso património e a nossa terra, aquela que pretendemos deixar intacta aos nossos filhos.
· Com mais aposta nos segmentos de maior valor acrescentado, que resistem melhor a crises, capturam mais investimento e pagam muitas vezes melhores salários.
Talvez tenhamos que pôr em causa, um dia destes, o dogma que nos tem guiado desde sempre. O volume é fundamental. Mas não é tudo, e se colocamos todas as fichas no volume, quando o azar bate à porta seremos o sortudo efémero num casino viciado.
Luís Barbosa
Financial Architect
ABC Sustainable Luxury Hospitality
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