Projetos economicamente sustentáveis e Projetos especulativos.
O mundo e os balanços dos bancos estão sempre cheios de projetos e crédito mal-parado, por isso há que distinguir o que são projetos sustentáveis ou especulativos.
Por vezes, as ideias apresentadas ao financiador são discutíveis, desde o início. Muito à frente ou atrás do seu tempo. Sem mercado. Sem um promotor capaz. Contudo, na maioria das vezes, eram ótimas ideias, criativas e que pareciam ter tudo para dar certo. Falharam na implementação, que se desviou do plano, ou porque tinham objetivos irrealistas e demasiado ambiciosos.
O enunciado acima apenas visa referir uma coisa. A especulação tem tipicamente um papel pernicioso nos projetos. Cria expetativas infundadas, às vezes involuntariamente, na maioria das vezes de forma premeditada. Não permite ter uma relação adequada entre os recursos previstos e os resultados que vão ser gerados. E planta a semente para inúmeros problemas mais à frente, entre os stakeholders de um projeto.
Nas dezenas de ideias de projetos que analisamos, procuramos sempre impor uma boa dose de realismo. No Excel e nos Powerpoints cabe toda a nossa ambição. Na vida real, essa ambição tem que ser contextualizada, em função do tempo, do espaço e dos interlocutores que temos pela frente. Por isso, no mínimo é relevante perceber o que pode correr mal e simular a sensibilidade dos modelos perante eventos externos.
Quem pede um crédito com base numa expetativa muito agressiva e positiva, não deve esperar demasiada compreensão, por parte de quem assegura o funding.
Este nosso conceito de projetos sustentáveis, por oposição projetos especulativos, deve igualmente impor uma lógica de consistência argumentativa. Alguns exemplos:
- Se temos projeções brutalmente favoráveis, porque vamos pedir aos bancos um financiamento a muito longo prazo ?
- Se o projeto é hiper-rentável, porque há-de o estado ou a união europeia apoiar alguém que não necessita do seu apoio ?
- Se quero vender a ideia de que necessito dos bancos, para quê projetar a libertação de dinheiro para os sócios, com primazia face à dívida ?
Ao fim de tantos anos com projetos ultra-alavancados falidos, porque continuamos a desenhar projetos com 60 ou 70% de dívida?
“Talvez por ter visto nestes 25 anos, tantos projetos em fase de Business Plan, como projetos em fase de execução, tenho alguma dificuldade em compreender que se insistam nos mesmos erros.”
Pela maneira como ouço alguns CEO a falar dos seus projetos, por vezes parece que começamos a confundir vendas com financiamentos. Ficam mais contentes quando se financiam do que quando encontram o primeiro cliente.
O recurso a dívida tem que ser utilizado com critério, com mais certezas, com mais margem de segurança. E tem que se perceber o que vai acontecer, se o projeto correr mal. Fico sempre impressionado quando alguém se apresenta como um investidor, mas tudo o que tem é dívida.
“Sem sustentabilidade nunca haverá prosperidade. Pelo menos, não por muito tempo. Durará apenas até à primeira curva que o caminho nos trouxer.”
Luís Barbosa
Financial Architect
ABC Sustainable Luxury Hospitality
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